quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Mozart: Barth disse, e Dooyeweerd concordou!

Bem, creio que todos os que me conhecem melhor sabem da minha paixão por Mozart - mesmo que eu não passe de um ouvinte diletante.

Tive acesso, no ano passado, a um dos raríssimos estudos sobre cultura de Karl Barth, na coletânea de Leibrecht em homenagem a Paul Tillich. Trata-se do famosíssimo - dentro de uma insignificante parcela da população mundial, naturalmente - "Wolfgang Amadeus Mozart", um artigo de Barth que ainda pretendo traduzir. Deveria ter sido neste ano - o "ano Mozart", mas meu cérebro não me permitiu tal façanha. No ano que vem, quem sabe...

Mas a referência ao artigo se deve a uma descoberta curiosa. No excelente site sobre Dooyeweerd de Glenn Friesen - um erudito bastante excêntrico que passou dois meses em L'Abri, visitou a Índia, foi aluno de Hendrik Hart quando este ainda era conservador, e finalmente, estudou com o próprio Dooyeweerd - encontrei uma historieta que só poderia correr mesmo fora dos livros. Segundo o Friesen, numa espécie de sarau musical, na casa da filha de Dooyeweerd, ele teve a oportunidade de ouvi-lo comentar Barth. Cito Friesen:

"Então Dooyeweerd falou-me a respeito de música. Ele me disse que Barth tinha dito que, quando os anjos no céu são requisitados a tocar diante de Deus, eles tocam Bach. Mas que, quando eles tocam por si mesmos [para se divertir, no original Barthiano], eles tocam Mozart [e mesmo Deus se diverte com eles, diz o original]. Para sempre em me lembrarei e apreciarei este lado humano de Dooyeweerd."

Como deve ter ficado claro nas minhas observações em itálico, Dooyeweerd citou o artigo de Barth. É compreensível, desde que Dooyeweerd não apenas lia Barth; também era músico, e tocava piano bem, segundo dizem. E eu concordo com ambos: Deus fez Mozart para se divertir, e a todos nós. E se alguém não acredita nisto?
Ora, quem tem ouvidos para ouvir, ouça...

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Ecologia e Missão Integral

Aconteceu, de 24 a 26 de novembro o I Fórum Missão Integral: Ecologia & Sociedade, no Vale da Bênção, em Araçariguama. Eu e o Rodolfo estivemos lá para conferir: foi um evento realmente maravilhoso, com muita gente boa: Marina Silva, a ministra do Meio Ambiente, Peter Harris, fundador d'A Rocha, Sir Ghillean Tolmie Prance, cientista inglês mundialmente conhecido, ganhador de vários prêmios, inclusive no Brasil (ele fala português fluentemente, foi presidente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia [INPA] na década de 1970), nosso conhecido Ariovaldo Ramos, cujas palestras deram a profundidade teológica necessária ao evento, Dra Silvia Nassif Del Lamma, da UFscar, e outros.

Em um momento de distração dos seguranças, conseguimos "sequestrar" a ministra para uma foto (mentira, ela foi extremamente acessível). A propaganda do nosso livro, "Cosmovisão Cristã e Transformação" entretanto, não foi idéia nossa, juro - a ministra fez questão de fazer o comercial, por ser leitora assídua da revista Ultimato (e o nosso livro é, graças a Deus, da Ultimato). Assim aparecem na foto, o Marcelo, do CADI, o Márcio, insigne indigenista (trabalhou muitos anos na FUNAI) e também membro da equipe do CADI, a ministra, eu, o Rodolfo, e uma simpática senhora da qual provavelmente jamais saberemos o nome.

Durante o evento foi lançado o livro Missão Integral: Ecologia & Sociedade, com artigos de vários participantes do Fórum, e alguns ausentes, todos pessoas envolvidas com a Missão Integral da Igreja. O livro foi publicado pela W4 Editora (a mesma que publica os livretos da AMC - Associação de Músicos Cristãos). Foi a oportunidade de conhecer pessoalmente o Whaner Endo, sócio da editora e da W4 Comunicação. O Whaner faz mestrado em comunicação na Umesp, e sua esposa o doutorado. Fiquei sabendo lá que ela foi a coordenadora do Eclesiocom - parabéns! Foi um evento importante na Umesp que, diga-se de passagem, mantém uma das melhores escolas de comunicação da América Latina.

Várias instituições apoiaram o evento: Visão Mundial, ABUB, MEP, Renas, Ministério do Meio Ambiente, Ultimato, e outras. Mas no centro de tudo estava A ROCHA: Cristãos pela Conservação. O Fórum foi a oportunidade para o lançamento do projeto. A ong foi fundada em 1983, por Peter Harris, quando este e sua esposa iniciaram um trabalho em Portugal que combinava espiritualidade cristã, pesquisa e conservação ambiental. O trabalho cresceu, tornando-se uma rede internacional em 1995 e, hoje, já está em 16 países e 4 continentes.

A Rocha Brasil foi organizada oficialmente no Brasil em 2006, como organização ambiental, sem fins lucrativos, e pretende iniciar o trabalho de pesquisa e conservação no estado de São Paulo, a partir de 2007. A Rocha Brasil conta com uma equipe maravilhosa de acadêmicos e ambientalistas, cujo interesse maior é mesmo "ver a coisa acontecer, ao invés de falar e aparecer". Devo dizer que testemunhar isto foi de grande inspiração para mim - o Marcos, em especial, quase não aparecia, mas trabalhava sem parar - ele e sua esposa Gláucia (a quem estou devendo uns quitutes mineiros!).

A propósito, eu conheci pessoalmente o Marcos Custódio, presidente atual d'A Rocha Brasil, quando ele veio a Belo Horizonte para participar do I Congresso da AKET, em outubro deste ano. Gente muito boa: crente, cheio de vontade de trabalhar, e com o coração na Missão Integral. Ele também se identificou com a nossa proposta, e se tornou membro da AKET, na oportunidade - uma honra pra nós. E, tenho certeza, uma bênção divina: a presença do Marcos na associação vai nos ajudar a preencher uma lacuna no trabalho da AKET, que é a reflexão sobre as questões ambientais.

Destaques:

1) em primeiro lugar, a grande quantidade de biólogos, engenheiros ambientais, ambientalistas de várias especialidades me chamou a atenção. Mas a de biólogos, especificamente. Fico pensando se, além do Fórum, e d'A Rocha, não seria interessante se os biólogos cristãos se reunissem para construir pontes entre a biologia moderna e o cristianismo evangélico. Trata-se de um campo muito importante, no qual as relações são tensas. Não poderiam os biólogos evangélicos funcionar como embaixadores, tanto para a igreja cristã como para o mundo da ciência?

2) Devo dizer que virei fã da ministra Marina Silva. Na estrada há muito tempo, companheira de lutas do Chico Mendes, crente evangélica da assembléia de Deus, conhece muito bem seu campo de trabalho, e consegue ser realista sobre os limites políticos e conjunturais do seu trabalho sem se tornar pessimista ou perder a esperança. Um grande testemunho.

3) A palestras do Ariovaldo foram o ponto alto, teologicamente falando. De especial importância a ênfase na coerência entre Criação e Redenção, e sua reflexão ainda construtiva sobre o lugar do mal na natureza. Ele expressou a percepção de que há um mal natural que não é exatamente o mal da "Queda", tocando num ponto interessantísimo, para mim: o problema do mal no contexto ecológico, isto é, o problema do mal em uma teologia da natureza. Penso que isso é muito importante para o diálogo entre a biologia/ecologia e a teologia cristã.

4) Peter Harris, gente muito acessível. O fundador d' A Rocha não é biólogo, engenheiro, etc - é teólogo! Eu e o Rodolfo conversamos com ele um pouquinho, e perguntamos sobre a influência de Schaeffer sobre a Rocha. Segundo as palavras de Harris, a influência teria sido "total", a partir do livro "Poluição e Morte do Homem". E, ainda, que A Rocha seria uma espécie de "L'Abri ecológica"! Isso é muito bom. Espero que, no futuro, o L'Abri Brasil tenha muitos contatos enriquecedores com A Rocha Brasil.

5) Finalmente, Sir Ghillean Tolmie Prance (link para wikipedia): cientista inglês de primeira linha, grande conhecedor da realidade brasileira, foi, como eu disse antes, o primeiro diretor de pós-grad do INPA, onde também meu irmão, o conhecido e procurado "incendiário da prainha" fez o mestrado em ecologia, premiado por suas atividades no Brasil e exterior, é também um cristão comprometido, e autor de vários livros (além de suas obras científicas) que tratam da relação entre cristianismo e ambientalismo. Uma admirável combinação de ativismo, ciência e fé. Há até um livro escrito sobre a vida dele! Que Deus nos dê muitos e muitos Prances brasileiros!
A equipe da Rocha Brasil organizou uma lista de discussão. É uma boa forma de entrar em contato e se informar melhor sobre quem está envolvido.

Vamos orar e apoiar este projeto!