quinta-feira, 28 de maio de 2009



Instituto Faraday Lança Documentário sobre Religião e Ciência


Não é de hoje que os líderes cristãos envolvidos com a integração de fé e academia procuram subsídios pedagógicos realmente úteis - que não pequem por amadorismo acadêmico ou de qualidade da produção.

Pois agora a resposta às orações de muita gente está chegando: o Instituto Faraday para Ciência e Religião está finalizando um programa especial de educação em Religião e Ciência para igrejas que será lançado em 1 de Julho deste ano. O programa, batizado com o nome "Test of Faith: Resources for Churches from the Faraday Institute for Science and Religion" (O Teste da Fé: Recursos para Igrejas do Instituto Faraday de Ciência e Religião) visa prover igrejas e ministérios envolvidos com o trabalho acadêmico com vídeos e textos de alto nível e grande acessibilidade.

Prêmio Internacional

O filme já foi exibido para públicos restritos. Em 16 de Março foi apresentado no Festival de Ciências de Cambridge, e noticiado em vários órgãos, como o Daily Telegraph. E já foi premiado antes mesmo do lançamento oficial - ganhou a prata como o melhor documentário do ano pela International Visual Communications Association.

O documentário será lançado oficialmente em Julho, mas eu tive acesso antecipado ao filme, que sairá com legendas em português (além do francês, russo, espanhol, chinês, e dublado em árabe e farsi). Eu não poderia assim deixar de dar aos leitores uma canja aos meus leitores.

Quem Fez

O projeto foi concebido e pilotado pela geneticista Ruth Bancewicz, pesquisadora associada do Instituto Faraday desde a sua fundação, em 2006, com o apoio de James Crocker. O Faraday recebeu um financiamento especial de 1,901,068 dólares da John Templeton Foundation para desenvolver o projeto em parceria com a Contrapositive New Media.

Várias sumidades no campo das ciências e da teologia foram convidadas para as entrevistas, incluindo o físico-matemático de Cambridge e pastor anglicano John Polkinghorne, o físico Ard Louis, de Oxford, o neurocientista Bill Newsome, o teólogo Alister McGrath, o diretor do projeto Genoma Humano, Dr. Francis Collins e o historiador da ciência Peter Harrison, entre outros. No terceiro documentário aparece o biólogo molecular John Bryant - muitos leitores gostarão de saber o que ele me disse pessoalmente: foi o encontro com Francis Schaeffer no L'Abri que salvou a sua fé.

Os Documentários

O programa é centralizado em três documentários que abordam as três frentes onde o debate sobre religião e ciência é mais intenso: a cosmologia, a biologia evolucionária e as neurociências.

No primeiro deles é apresentada uma exposição muito didática do conceito de "ajuste-fino cósmico" (fine-tunning), ou seja, a idéia de que o universo apresenta uma série de características singulares e surpreendentes que indicam a existência de um propósito e uma mente divina. O fenômeno do ajuste-fino cosmológico é a principal evidência para o que foi denominado "princípio cosmológico antrópico" - o universo foi projetado para que enfim o ser humano viesse à existência. O documentário discute ainda o status da noção de "multiverso", uma das saídas procuradas por cosmologistas não cristãos para escapar das implicações do princípio antrópico.

O segundo documentário trata do problema da evolução biológica. A crítica ao criacionismo da terra jovem e ao Design Inteligente é respeitosa mas incisiva. O roteiro apresenta uma defesa da compatibilidade essencial entre a idéia cristã de Criação e a teoria da evolução. E o grande argumento em defesa da posição evolucionista teísta é a descoberta de Simon Conway Morris, paleobiólogo de Cambridge, de que o fenômeno da convergência evolucionária - espécies separadas desenvolvendo características estruturalmente idênticas ou quase - é muito mais extenso e capilar do que se imaginava.

Morris e outros relacionam esse fato com o argumento cosmológico antrópico, sugerindo que a teoria da evolução, corretamente interpretada, não seria evidência de que a vida surge "por acaso". Antes, o mecanismo evolucionário seria na verdade um processo muitíssimo mais complexo e ainda insuficientemente compreendido de produzir complexidade. Ou seja: haveria evidência empírica de que a evolução foi dirigida por Deus. O segundo filme trata ainda do problema do mal, do aquecimento global e da vocação cristã de cuidar do planeta terra.

O terceiro documentário foca a questão da personalidade humana, no contexto das neurociências: seria possível, como alguns neurocientistas vem alegando, que a personalidade, a consciência - tudo aquilo que costumávamos chamar de "alma" - seja meramente uma projeção de nosso cérebro físico, um epifenômeno? Vários cientistas cristãos são convocados para explicar porquê essa alegação é gratuita: na verdade, cada movimento da personalidade humana tem uma contraparte neurológica, mas isso não prova que a personalidade seja uma ilusão, que o real seja apenas a química cerebral. Somos seres profundamente corporais, mas a mente é uma realidade emergente que transcende ao cérebro, e que é capaz de provocar mudanças reais no mundo físico. E porque nossas personalidades são reais, as questões de valores éticos também são reais, irredutíveis e insolúveis do ponto de vista da ciência do cérebro.

Além dos três filmes principais, os diretores produziram ainda três sequências "bônus" com entrevistas com cientistas, teólogos e filósofos.

Materiais Didáticos: O Brasil Precisa

Juntamente com os documentários a equipe desenvolveu um livro e outros materiais didáticos que serão lançados pela Paternoster na Inglaterra. Seria muito interessante se alguma editora brasileira manifestasse interesse pela tradução e publicação desses materiais de apoio no Brasil. Eles com certeza poderão ser muito úteis para a evangelização universitária e a educação cristã por essas terras, e carregarão consigo o peso de um documentário de alto nível.